A história de um cearense que há 104 anos retornava à terra natal e fundava a Assembleia de Deus no Ceará

Para a história do Movimento Pentecostal no Ceará, o filho do casal Maximiano Nobre de Almeida e Maria Rosalina, o missionário Adriano de Almeida Nobre é considerado o primeiro obreiro a estruturar a obra no estado, especialmente nos distritos de Sítio Santana e Fazenda Lagoinha, em São Francisco de Uruburetama, atualmente município de Itapajé. Cearense, natural da cidade de Pacatuba, nasceu no ano de 1883 e deixou a sua terra natal ainda na infância na companhia da família. Eles viajaram com destino à localidade de Boca do Ipixuna, no Amazonas. Lá, passaram a residir às margens do rio Tajapuru, primeira região evangelizada pelos missionários Gunnar Vingren e Daniel Berg.

Ao atingir a maioridade, o missionário Adriano Nobre tornou-se ajudante de um presbiteriano inglês, um comandante dos navios da Companhia de Navegação Porto Of Pará. Fruto da convivência com o estrangeiro, ele terminou conhecendo a língua inglesa. A partir do contato do primo Raimundo Nobre com os mensageiros suecos, houve então a aproximação do personagem com os nobres pioneiros, ainda em Belém (PA). Após terem firmado um laço de amizade, é possível que ele tenha se tornado o tradutor oficial de Vingren e Berg nas suas primeiras pregações. Tomando como base a cumplicidade existente entre os servos de Deus, afirmamos que, neste contexto, o cearense já havia feito a sua adesão à doutrina pentecostal, tendo em vista que antes seguia os princípios presbiterianos.

O envio à Itapajé

No período compreendido entre os últimos dias de junho e o início da primeira quinzena de julho de 1914, a “igreja-mãe”, situada na capital paraense, recebeu um telegrama vindo do Ceará, sem dúvida, enviado pela pioneira Maria de Jesus Nazareth Araújo. Nos poucos escritos, ela informou da boa recepção dos irmãos e da necessidade do envio de um pastor para oficializar a obra evangelística, discipular os novos crentes convertidos e os que haviam aderido ao Pentecostalismo e realizar batismos em águas. Em seguida, o missionário foi ordenado e, logo depois, enviado às terras cearenses nos primeiros 15 dias de julho de 1914. Passados quatro dias de viagem a bordo de um navio da Companhia Brasileira de Navegação a Vapor, ele desembarcou no Porto de Camocim (CE).

Primeira geração de pioneiros assembleianos 

Depois de aproximadamente dez dias em viagem de Belém à região de Itapajé, ele chegou à Fazenda Lagoinha. Ainda distante alguns metros da “casa grande”, imóvel de propriedade da família do falecido Felisberto Teixeira Bastos, o missionário foi avistado vindo de encontro às primeiras pessoas que o recepcionaram. Naquele momento, uma expressão dita por alguém que o esperava marcou os poucos minutos que antecedeu a sua chegada: “Lá vem o andarilho!”. O primeiro contato de Adriano Nobre foi com o obreiro Luiz Gonzaga Bastos, que o recebeu calorosamente e lhe ofereceu hospedagem. Como estava fisicamente exausto e com ferimentos nos pés, devido ao longo trajeto que percorreu pelas veredas, Nobre ainda passou em torno de uma semana sendo cuidado pela irmã Francisca Alcinda Bastos (Chiquita). 

Recuperado do cansaço, ele saiu de casa em casa com o objetivo de visitar os irmãos. Enquanto fazia este trabalho, pessoas que não eram convertidas acabavam se rendendo a Cristo e outras faziam a sua adesão ao Pentecostalismo. Entre as famílias com quem esteve naqueles dias, podemos citar a de Raimundo Ferreira Gomes, Raimundo de Salles Gomes, Vicente de Salles Bastos, Antônio Sabino Bastos Pinheiro,

Cordulino Teixeira Bastos, Herculano Teixeira Bastos, Manoel Rodrigues, Raimundo Guilherme, Francisco Vaz, Henrique Leonardo de Sousa entre outras. O primeiro culto realizado pelo mensageiro, no dia 20 de julho de 1914, foi alegre e festivo e com muitas decisões e adesões. Os demais, sem dúvida, também foram abençoados da mesma forma. Durante aquelas reuniões, os semblantes dos servos de Deus demonstravam verdadeiro regozijo, o que nos permite dizer que houve tremendo renovo para a igreja que aos poucos se formava nos povoados mais desenvolvidos da cidade na época.